O ser nasce dobrado. É como uma folha de papel dobrada diversas vezes, só que, no caso do ser, o número de vezes é infinito. (A matemática está implícita aqui, mas não é o fundamento). O ser nasce inteiro e dobrado. Uma das tarefas do ser é se desdobrar ao longo da vida. Ele se desdobra, tudo junto. Não é só o corpo, ou somente a alma, ou só a mente; o ser se desdobra. Ponto. Ele pode se desdobrar sem querer, involuntariamente, mas, num certo ponto de sua vida, o ser se desdobra de maneira deliberada - ou pelo menos consciente. Ele pode viver dobrado em grande parte da sua vida. Pode ser uma escolha ou pode ser uma banalidade. Muitas vezes, se desdobrar é fácil e agradável; outras vezes, o ser sofre ao se desdobrar. Mas o que acontece quando o ser se desdobra? Falando dos produtos, resultados, as vezes o ser se amplia, se enche de algo, aumenta seu espaço e alcance, toca em outras coisas, vê aquilo que estava oculto na(s) face(s) dobrada(s); outras vezes, fica menor, abre e encolhe, ou só encolhe; em outras mais, ele se amplia, mas não em tamanho, e sim em intensidade; alguns se desdobram muito rápido e perdem o processo de desdobrar-se; outros não têm forças para se desdobrar; há aqueles que se desdobram e se dobram novamente, com medo; alguns outros desdobram uma parte tão grande que, ou demoram anos para entender e completar - se completar realmente - o processo, ou se perdem na magnitude da dobra desdobrada; os que entendem passo a passo o processo de desdobrar-se são seres únicos, raros. Há vários desdobramentos.
Contudo, o ser pode desdobrar-se a si mesmo, mas isso não significa que ele está fazendo uma atividade isolada, individual e deslocada de tudo e de todos. O ser em desdobramento está aí, no meio de tudo. Ele acompanha e é acompanhado por alguns outros que também estão no processo de desdobramento, em diversas etapas. Desdobrar é atuar e compartilhar.
O ser, ao se desdobrar, também desdobra o mundo, o qual também solicita o desdobramento. Tudo se desdobra junto. Não há fim? Não sei, acho que não.