quinta-feira, 8 de abril de 2010

Ser dobrado

O ser nasce dobrado. É como uma folha de papel dobrada diversas vezes, só que, no caso do ser, o número de vezes é infinito. (A matemática está implícita aqui, mas não é o fundamento). O ser nasce inteiro e dobrado. Uma das tarefas do ser é se desdobrar ao longo da vida. Ele se desdobra, tudo junto. Não é só o corpo, ou somente a alma, ou só a mente; o ser se desdobra. Ponto. Ele pode se desdobrar sem querer, involuntariamente, mas, num certo ponto de sua vida, o ser se desdobra de maneira deliberada - ou pelo menos consciente. Ele pode viver dobrado em grande parte da sua vida. Pode ser uma escolha ou pode ser uma banalidade. Muitas vezes, se desdobrar é fácil e agradável; outras vezes, o ser sofre ao se desdobrar. Mas o que acontece quando o ser se desdobra? Falando dos produtos, resultados, as vezes o ser se amplia, se enche de algo, aumenta seu espaço e alcance, toca em outras coisas, vê aquilo que estava oculto na(s) face(s) dobrada(s); outras vezes, fica menor, abre e encolhe, ou só encolhe; em outras mais, ele se amplia, mas não em tamanho, e sim em intensidade; alguns se desdobram muito rápido e perdem o processo de desdobrar-se; outros não têm forças para se desdobrar; há aqueles que se desdobram e se dobram novamente, com medo; alguns outros desdobram uma parte tão grande que, ou demoram anos para entender e completar - se completar realmente - o processo, ou se perdem na magnitude da dobra desdobrada; os que entendem passo a passo o processo de desdobrar-se são seres únicos, raros. Há vários desdobramentos.
Contudo, o ser pode desdobrar-se a si mesmo, mas isso não significa que ele está fazendo uma atividade isolada, individual e deslocada de tudo e de todos. O ser em desdobramento está aí, no meio de tudo. Ele acompanha e é acompanhado por alguns outros que também estão no processo de desdobramento, em diversas etapas. Desdobrar é atuar e compartilhar.
O ser, ao se desdobrar, também desdobra o mundo, o qual também solicita o desdobramento. Tudo se desdobra junto. Não há fim? Não sei, acho que não.

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Às vezes, não gosto de ficar compartilhando as coisas... outras vezes, ao contrário, eu gosto sim. Enfim, acho que será uma boa experiência compartilhar as coisas que vivo. Porém, sem os outros, não há compartilhamento; há um acúmulo egocêntrico sem eco. Por isso, espero também compartilhar coisas com todos.